Heather O’Rourke: uma carreira interrompida e uma morte misteriosa

EstranhoCine - Filmes de Terror
8 min readDec 28, 2020
Foto: Reprodução

A famosa garotinha loira e angelical Carol Anne no clássico ‘Poltergeist — O Fenômeno’, de 1982 faria hoje 45 anos, não fosse sua prematura carreira interrompida de forma trágica há 32 anos atrás, em 1988, aos 12 anos.

ASCENÇÃO PRECOCE

Heather O’Rourke era um clara e notória estrela em ascensão numa Hollywood de 1988.

Descoberta totalmente por acaso aos 5 anos, enquanto almoçava com sua mãe e à espera por sua irmã mais velha Tammy nos estúdios da grandiosa MGM (Metro-Goldwyn-Mayer Inc), e no qual ela era dançarina, no filme “Dinheiro do Céu” (Pennies From Heaven, 1981); Heather fora descoberta por acaso, por ninguém menos que Steven Spielberg.

Heather O’Rourke e Steven Spielberg

O já renomado diretor vinha de produções como ‘Encurralado’ (1971), ‘A Força do Mal’ (1971), ‘Tubarão’ (1975) e ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau’ (1977) e no atual momento estava em busca de uma criança com feições angelicais, e de aproximadamente quatro anos de idade, para estrelar em seu novo filme, que seria uma sequência ao gênero em glamour, terror. Com ‘Poltergeist’.

Spielberg a viu, logo se interessou pela garota e a convidou para ir até seu escritório onde ele fez testes de suas habilidades de atuação e interpretação.

Ele queria que eu tivesse medo desse peixes cor de rosa e de um porco roxo…”, mais tarde Heather detalhou a cena.

Drew Barrymore e Heather O’Rourke

No dia seguinte ao seu teste, Heather foi contratada para estrelar no filme, ganhando o papel que seria da jovem Drew Barrymore — cujo talento não fora desperdiçado, tendo mais tarde naquele mesmo ano atuado como Gertie em ‘E.T.: O Extraterrestre’, do próprio Spielberg.

Em sua premissa, ‘Poltergeist’ era um filme sobre um casal com três filhos que se muda para uma casa habitada por espíritos. A filha mais nova, Carol Anne, podia ouvir os espíritos através de um aparelho de TV na sala de estar. E então, ela é sugada para um portal multi-dimensional e daí em diante o filme lidava com os conflitos dos pais para resgatá-la.

Oliver Robbins, o ator que interpretou Robbie (o irmão de Carol Anne) disse que ele e Heather eram realmente como irmãos no set de filmagem. Mais tarde a descrevia ao Daily Mail, em 2015: “Ela era uma garota muito inteligente e precoce para alguém de apenas cinco anos de idade”.

Foto: Reprodução

Após o sucesso enorme do filme na época, e por sua belíssima atuação, Heather O’Rourke recebeu diversas outras ofertas, e como participação especial em algumas séries dos anos 80, principalmente em ‘Webster’ (1983–1989; uma série sobre um garoto afro-americano órfão), onde fez a garota Melanie em 3 episódios, e na famosa série CHiPs, como Lindsey no episódio ‘Fun House’, ambas de 1983.

Além do mais, Heather também fez 12 participações contínuas na série Happy Days como Heather Pfister, de 1982 à 1983.

O empresário de Heather, Mike Meyer, havia dito que ela tinha a incrível capacidade de memorizar um longo roteiro de 60 páginas em uma hora. E os ganhos com atuações de Heather foram imprescindíveis para sua família que viva num daqueles estacionamentos de trailers que se vê em muitos filmes dos anos 80 norte-americanos, para uma casa de verdade, com 3 quartos ante a uma floresta na cidade de Big Bear Lake, na Califórnia.

O COMEÇO DAS DOENÇAS E PREOCUPAÇÃO

O’Rourke aos 12, em ‘Poltergeist III — O Capítulo Final’ (1988)

Em 1986 ‘Poltergeist II’ foi lançado, e em 1987 Heather já começava a apresentar sérios problemas de saúde.

Depois de várias idas ao médico, ela foi informada de que estava com giardíase — uma infecção do intestino delgado que causava diversos sintomas adversos, e que, segundo médicos, ela certamente haveria adquirido por sua família retirar água de um poço em sua casa na floresta.

Ela foi tratada, mas logo depois fora diagnosticada com doença de Crohn — uma doença intestinal inflamatória e crônica que afeta o revestimento do trato digestivo, e então passou a usar cortisona. Isso deu a ela uma aparência de “bochechas de esquilo” e um rosto inchado, o que a deixou muito constrangida na época.

Naquele mesmo ano, em 1987, Heather filmou ‘Poltergeist III’. O diretor, Gary Sherman, disse ao documentário ‘Cursed Films’ do canal Shudder que “a adorava, e adorava trabalhar com ela”.

“Eu acho que foi depois do primeiro ou do segundo dia de filmagem, que ela veio à mim e disse: ‘Quer saber, Gary? Eu adoro a maneira como você dirige, e eu quero ser uma diretora quando crescer. Então, eu gostaria de estudar como você trabalha.’”

Assim que Heather O’Rourke terminou de filmar o terceiro filme da franquia, sua família fez uma viagem para o resort da Disney World, na Flórida, e Kathleen descreveu-a como “as férias de sua vida”.

A MORTE

No entanto, numa segunda-feira em 1º de fevereiro de 1988, Heather acordou sentindo-se muito mal, embora que insistisse em querer ir para a escola. Mas naquela manhã, em sua casa, seus sintomas pioraram. Ela não conseguia engolir nenhuma comida, seus dedos das mãos e pés começaram a ficar azuis, e sua respiração tornou-se pesada e difícil.

Ela desabou no chão, e sua mãe, Kathleen prontamente chamou uma ambulância. Ela estava tendo um choque séptico.

Heather e sua mãe, Kathleen O’Rourke

Kathleen disse a Heather: “Eu te amo”, e Heather respondeu: “Eu também te amo”. E estas foram as últimas palavras que ela disse.

Ela sofreu uma parada cardíaca à caminho do hospital, na ambulância. Ela foi encaminhada à um hospital comunitário de El Cajon. No hospital, os médicos até chegaram a a ressuscitá-la precisamente às 9h25, mas ela já havia sofrido severos danos cerebrais, sendo posteriormente transferida para o hospital Rady Children’s, o maior da cidade de San Diego.

Os médicos realizaram uma cirurgia emergencial e descobriram que ela tinha uma obstrução intestinal causada por um defeito de nascença, e que não era a tal doença de Crohn — com o qual ela fora diagnosticada anteriormente, e uma mera cirurgia poderia tê-la salvado. Mas após diversas intervenções e reanimações cardiopulmonares, ela foi declarada morta naquela mesma tarde, às 14h43.

Foto: Reprodução

A causa da morte de O’Rourke foi choque séptico em decorrência de uma estenose intestinal congênita.

Na época, o dr. Daniel Hollander, chefe de gastroenterologia do centro médico da Universidade da Califórnia, disse à AP (Associated Press) que a morte de Heather foi “distintamente incomum” porque ela não havia mostrado sintoma algum anterior de defeitos intestinais.

Eu esperaria muitas dificuldades [digestivas] durante toda sua vida e não que surgissem de repente”, explicou ele.

Outro gastroenterologista, dr. Hartley Cohen, também achou a morte de Heather incomum. “Simplesmente parece não fazer sentido”, disse ele.

O funeral de Heather foi realizado três dias depois. Co-estrelas do filme ‘Poltergeist’ e da série ‘Happy Days’ compareceram a cerimônia. O reverendo Dennis Estill disse aos enlutados que haviam duas coisas que Heather desejava ter. “Ela só queria um Oscar e um Rolls Royce.

KATHLEEN O’ROURKE E O LUTO

Jornal da época com entrevista de Kathleen O’Rourke

Heather foi enterrada em um caixão aberto, usando uma corrente em seu pescoço com a palavra “amiga”. Sua mãe usava uma corrente correspondente que dizia “melhor”.

Heather me deu isso no Natal”, disse sua mãe à revista People.Ela costumava dizer às amigas que eu era sua melhor amiga e não somente sua mãe.

Kathleen disse que após a morte de Heather ela teve uma forte depressão, e que precisou se esforçar para ter vontade de comer ou sequer levantar-se da cama. “Eu não conseguia mais cozinhar. Heather adorava tortas, bolos e biscoitos, e eu preparar para ela. No começo eu não sabia se conseguiria. Eu pensei: ‘Por que continuar?’”

Em maio daquele ano, Kathleen entrou com um processo por homicídio culposo, alegando que Heather ainda estaria viva se não tivesse sido diagnosticada incorretamente.

O PROBLEMA DE UM FILME INACABADO

Enquanto isso, o diretor Gary Sherman se via obrigado a planejar e filmar novamente o final de ‘Poltergeist III’. Mas sem Heather, ele sentiu que não poderia e não queria, de maneira alguma.

“Não posso voltar para a sala de edição ou assistir a esse filme com esse garota de 11 anos que estava morta”, ele lembra-se de ter pensado. Mas ele disse à Cursed Films que precisava.

“…O conselho da MGM apenas nos disse: ‘Vocês vão terminar o filme. Investimos muito dinheiro no filme’”. Ele tinha que pensar em um final que não envolvesse Heather.

“Então, tivemos a ideia do estúpido final que está hoje no filme, onde usamos uma sócia para Heather. Essa foi a coisa mais assustadora o qual já passei na minha vida.”

RUMORES RIDÍCULOS

Os rumores de que os filmes da franquia ‘Poltergeist’ eram amaldiçoados começaram muito antes da morte de Heather. Dominique Dunne, a atriz de 22 anos que interpretou a irmã mais velha de Carol Anne, Dana, foi estrangulada pelo ex-namorado em sua garagem poucos meses após o filme ser lançado. Ela morreu cinco dias depois.

Duas estrelas de ‘Poltergeist II’ faleceram pouco depois de terminarem de filmar. Julian Beck, que interpretou Kane, morreu de câncer antes do filme ser lançado, enquanto Will Sampson, que interpretou Taylor, morreu de insuficiência renal pós-operatória no ano seguinte.

Quando Heather morreu, os rumores se potencializaram e explodiram.

Alguém surgiu com a teoria de que a maldição foi causada por esqueletos reais que foram usados ​​nas filmagens do filme, e essa teoria decolou. Craig Reardon, o maquiador de efeitos especiais disse à Cursed Films que isso é “conceitualmente ridículo” e “pessoalmente ofensivo”. Ele dizia que esqueletos humanos têm sido usados ​​em filmes há anos.

“A ideia de ter alguns deles no set de Poltergeist e matar duas lindas garotas é uma ideia muito perniciosa”, diz ele.

Então vale ressaltar, toda essa ideia é simplesmente ridícula. O cinema está repleto de fatalidades — da comédia ao terror, e muitos boatos são puramente maldosos.

Uma cerimônia funerária fechada foi realizada em 5 de fevereiro de 1988, em Los Angeles. Ela está no Cemitério do parque Westwood Village Memorial sob os dizeres: ‘Amada filha-irmã.’

RIP HEATHER O’ROURKE

San Diego, 27 de dezembro de 1975 — San Diego, 1 de fevereiro de 1988

Fontes: Memorial, LA Times, outros.

Publicado originalmente em nosso blogue, em 27/12/2020.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

EstranhoCine - Filmes de Terror
EstranhoCine - Filmes de Terror

No responses yet

Write a response