“Febre” de Ted Bundy: Estaríamos endeusando um filho da put#*!@?

Vocês lembram desse sequelado? Ele é objeto de interpretação de Zac Efron em nova adaptação. O ator era um dos mais populares entre jovens, o ex-ator da Disney não estaria dando um mal exemplo?
Hoje vamos discutir sobre um assunto um pouco mais sério. Mais sério do que muitos podem imaginar: Estaria a nossa cultura popular endeusando um canalha que não passa de um psicopata sem escrúpulos? Estamos começando a querer nos orgulhar dele se alguma forma?! Bom, eu não vejo assim, talvez somente seja uma onda oportunista e tendenciosa.
Há muito tempo falamos de Ted Bundy neste blog. Já fiz diversas análises, estudos, críticas e textos conjecturando sobre o próprio, mas sempre com o intuito de aprender mais sobre ele, desde seus arquivos segundo o FBI, até um cemitério de cabeças humanas que ele criou. O cara era um doente, porra.
Mas afinal de contas, o que tinha Bundy de tão especial para ser tão lançado e re-lançado? Por que estamos vivendo essa ‘’febre’’ ao ponto de praticamente alguns dos meios mais populares atuais fazerem simultaneamente filmes e documentários sobre sua vida? (Claro, estou falando do Netflix e de um determinado ator posteriormente ligado à Disney)

É óbvio que há uma forçação de barra absurda para modernizar sempre o que já foi feito, os famigerados remakes ou reboots. Mas por que perder tempo dando tanta atenção a um assassino em série de mulheres vulneráveis e crianças ao invés da representação de vida de algum ator talentoso ou diretor? Bom, o fato é que contar sobre coisas fidedignas não vende bilheteria. Estamos cansados de saber que é assim que as coisas são. E no mundo de hoje, roteiro não precisa ser necessariamente mais importante que audiência.
E há de ser dito, o caso do bandido Bundy gerou tanto ódio, fúria e revolta, que inevitavelmente era popular na época. Claro, todo cidadão queria a cabeça dele fritada. Mas e hoje? Não vemos nenhum ator extremamente famoso revivendo Gacy ou outros como Aileen Wuornos (quiça mais interessante que o próprio Bundy, pela trajetória macabra). Qual é o ponto?
Então o fato, pra mim, é que há sim uma certa endeusação. Pura e simples. Como tudo no mundo midiático, Bundy tem o que Hollywood gosta, uma história que causa medo, um certo espanto, mas sensacionalismo e superestimação andam de mãos dadas, muitas vezes a figura dele, sem dúvidas, com o viés errado.
Eu, no entanto, me distinguo (falo por mim) em três aspectos específicos do porquê de tanto ressaltar a importância de se estudar a mente e comportamento doentio de Ted Bundy, um deles é pelo lado jurídico da coisa — ele como um criminoso contumaz e sociopata incurável se representou, temos temos de convir que numa causa de vida ou morte, é no mínimo curioso que ele tenha defendido a si mesmo.

O segundo ponto: Bundy é como uma tragédia de avião, nós não temos que saber funcionalmente o que deu errado, por obrigação, mas seria ótimo estudá-lo para entender como ele chegou onde chegou… o que me leva ao terceiro ponto.
Por último (e não menos importante), o que torna Ted Bundy interessante é estudo de seu cérebro. Há um certo estudo na ciência que aponta uma relevante alteração no funcionamento cerebral no cérebro de sociopatas. Quem sabe estudar isso acrescente algo à ciência? Então é um ponto a ser considerado.
Eu acredito, apesar de tudo, que não há mais necessidade de abordarmos Bundy no cinema, não com o que já temos — uma informação limitada. O tal documentário lançado sobre ele no Netflix recentemente foi bom para conhecermos melhor dele, o lado do predador selvagem que era ele falando de maneira quase que consequente, embora já condenado. Mas, o filme… esse é dispensável. Acredite, já vi todos os filmes que retrataram a vida dele, e desde os ruins (alguns que nem merecem menção) aos melhores, as perspectivas todas já foram exploradas.
Um dos filmes que acho mais interessante é o ‘Deliberate Strange’, que embora se visto como filme de Terror, é um filme fraquíssimo, como drama é excelente, filme que foi brilhante em considerar o ponto de vista das vítimas e suas famílias, coisa que filme nenhum de Hollywood pensa em fazer quando lança Zac Efron no papel.
Já se você busca o lado mais cruel despudorado e gore possível de Bundy, você pode assistir Ted Bundy (2002), um filme primoroso em mostrar Ted Bundy de forma cruel, a sinistra ‘coisa’ que ele era, que não-humana. Completo. Extremamente completo, mas, mesmo assim, por mais frio e cruel que o filme de 2002 tivesse tentado ser, não houve coragem suficiente para ir nos extremos de Bundy que teve como sua última vítima uma criança de 12 anos. Só deus sabe o que Bundy fez com essa garota.

Ainda não vi o novo filme sobre Bundy, e com toda a franqueza do mundo, não me vejo nem sequer minimamente inclinado a isso, não no futuro presente ao menos, porque além do trailer em nada ter me empolgado, de eu não ser grande fã de Efron, sei que vai ser redundante em contar o que já foi contado e o que todo mundo já sabe. Não que eu desmereça os filmes atuais, não sou um saudosista inflexível como muitos, mas não traz nenhuma nova perspectiva.
É claro e explícito que Efron explora o lado mais galanteador de Bundy. Nada de novo além de popularizar mug shots e deixar ele mais galã do que era.
Um lado, no entanto, que eu gostaria de ver sendo explorado é o Bundy como advogado, o então-advogado, mas tenho muitas dúvidas sobre como essa história seria contada de uma maneira séria e detalhada, adentro da mente do próprio psicopata.
Então, SIM. De certa forma, estamos endeusando um filho da puta. Tudo isso por um simples motivo: o que podia ser dito já foi dito, não há novos pontos de vista, as representações não trazem nada de novo ou digno de um Oscar (longe disso). Não há porque fazer. Não há porquê reutilizar fórmulas velhas e datadas, ainda mais para falar sobre um ser desprezível.
Ted Bundy está morto. O que foi dito, foi dito, e todos já sabem. Se não há o que contar, não há o que contar. Deixem que ele morra (nem digo em paz).
Publicado originalmente em 11/03/2019 em nosso blog.