Crítica: O Massacre da Serra-Elétrica (1974)

EstranhoCine - Filmes de Terror
8 min readNov 18, 2019

Título Original: The Texas Chain Saw Massacre | Direção: Tobe Hooper | Roteiro: Kim Henkel (screenplay), Tobe Hooper (roteiro e screenplay) | Estrelando: Marilyn Burns, Gunnar Hansen, Edwin Neal, John Dugan, Jim Siedow | Lançamento: 1 de Outubro de 1974 (Texas, EUA) e 28 de agosto de 1987 (no Brasil) | Orçamento: 83.532 dólares (estimado — arrecadando impressionantes 30.859.000 dólares (EUA) | Duração: 83 min. | 75 min. (nova edição) | 88 min (Unrated)

É hora de falar dele!

U m filme macabro, consagrado clássico setentista. Entre seus adjetivos mais claros, estão: Violência extrema, torturas, perturbação, repulsivo. Um clássico que une enquadramentos precisos e belíssimos numa Fotografia rica que beira a perfeição — se tratando de um filme de tão baixo orçamento então, é de se tirar o chapéu, realmente, um dos filmes mais bonitos visualmente do gênero. Uma imagem granulada típica na película da época.

Fato é que é quase unânime bons adjetivos serem usados na razoabilidade justa que define o original Massacre da Serra-Elétrica (1974 — Sera esta que na verdade é motoserra).

Existem diversas formas de falar desse filmaço. Pode-se começar dizendo que ele propicia diversas interpretações, filosofias sociológicas, teorias do pensar, e análises interessantes. Tais como a representação feminina, feminicídios, Karma, o seletivismo das espécies e respectivamente, claro, os temas de canibalismo, capitalismo, da representação familiar, etc. Isso só serve para mostrar uma parte do quanto, como terror, ele é um dos mais legais. Um dos principais motivos de ser tão consagrado.

Já falamos sobre O Massacre anteriormente, numa curiosa dissecação do filme, que temos aqui em nosso site, caso vocês queiram conferir, tem muito dos bastidores, trívias interessantíssimas, um pouco sobre a trajetória do diretor e do filme, e lá abordamos também, justamente, algumas dessas teorias citadas acima, ficou bem legal, quem é fã do clássico vai gostar.

Direção exuberante de um dos grandes crânios do gênero, Tobe Hooper. O filme foi seguido por uma franquia de “sequências” (quase todas mal sucedidas, na esteira do clássico). Um exemplo positivo, no entanto, é Massacre da Serra-Elétrica II (1986), esse dentre os demais ainda com assinatura de Hooper, embora ainda controverso como continuação, ainda bem aceito e consideravelmente original; Leatherface — O Massacre da Serra Elétrica 3 (de Jeff Burr, 1990 — ruim, eu particularmente detesto) e o não menos infame, O Massacre da Serra Elétrica — O Retorno (de Kim Henkel, 1994), desaceito como um filme excelente quase que por unanimidade (fora paixões desculpáveis — como por ser um filme nostálgico, por ter ninguém menos que Matthew McConaughey, ou por simplesmente ser um Guilty pleasure). E a lista não para por aí, ainda podemos falar além de continuações, prequels, spin-offs, influências (que são inúmeras — simplesmente tudo vindo depois dele), meros plágios (Bloody Murder, Slaughterhouse), cópias não-oficiais (como algumas peculiaridades) e até a (para mim não debatível) inspiração para um subgênero do terror — o slasher.

Nunca antes na história do Terror um filme foi tão marcado por berros histéricos, gritos de pavor e desespero de forma tão constante e até excessiva — que tenha sido algo tão marcante e assustador. Antes, claro, já existem filmes com Scream queens, à sua maneira, mas nada tão estérico e tão bem impulsionado num projeto certo e justificado, é um imprevisível jogo mortal onde o prêmio maior é sair ileso, é garantir a vida — onde quem perde não sobra para contar história… E nesse jogo inescapável, de gato e rato, sempre, os ambientes são hostis. O cenário jamais é agradável e ninguém é de confiança.

Uma das melhores coisas do Massacre é que esse lado de gritos de pavor não soam falsos, talvez por isso ele seja tão autêntico, representam com perfeição a intensidade do que é morrer para alguém que quer tanto viver.

E ainda falando sobre esse aspecto, esse é uma das melhores cartadas do filme, ninguém pode ser confiado, todos devem não só ser temidos como também evitados, não há a quem pedir socorro, e nesse clima de conspiração parecem só existir becos sem saída para todos os lados de arbustos com espinhos. Gritar não vai te ajudar e você está só… E viva enquanto suas pernas aguentarem correr e sua mente pensar rápido no lugar certo para onde correr.

Além de tudo, este filme atua como um circo de horrores com suas diversas aberrações e atrações, cada personagem da família canibal, Sawyer, é um universo diferente de parafuso a menos, com o pai, um punitivo filho da mãe sem escrúpulos.

Leatherface, a figura central desse circo, que antes trabalhava com abate de animais, parece que na verdade não compreende mais sobre esse tal seletivismo de espécie, e ao que tudo indica, em sua cabeça os humanos não passam de perigos em potencial. Com o corpo de um adulto com “problemas mentais” e a mente de uma criança pequena, parece também que por momentos nem querer matar mas estar protegendo seu próprio habitat, como se fosse um homem das cavernas — do mais bizarro possível, é claro. E isso tanto é que ele não vai atrás de nenhuma vítima, por desagradável coincidência do destino todos os desavisados vem para si, igual a um boi indo par sua cabine pneumática.

Tem o irmão, que não tem propriamente uma apresentação no filme, mas que todos conhecem por Hitchicker — caroneiro. É o mais desaforado de todos, do tipo que faz toda a questão do mundo de debochar das vítimas antes de matá-las friamente, não menos “retardado” que Leatherface, ele parece agir sem sentido sempre.

Além do mais, tem o avô… Esse não tem sequer reações, é um morto-vivo numa cadeira de rodas. Mas serve bem para explicar que vem de muito tempo as tradições da família com as práticas de canibalismo e psicopatia.

E no calor árido, abrasador e ofegante do Texas, as cervejas quase que necessárias para contrapor (ou despor) dessa realidade maldita e quente, embora que bela, de céus azuis profundos com vastos campos, um cenário de cemitérios e horizontes com nada além de uma estrada por quilômetros e mais quilômetros, locais de poucos moradores… Tudo isso define bem o Texas da época, por sinal. É a receita perfeita para uma família canibal se estabelecer, muito convincente.

Vítimas sempre seriam possível numa estrada de forasteiros, muito espaço para notar sem se ser notado, por mais que nada disso seja questão central dessa família maluca que é a Sawyer. Entretanto, apesar desse caos natural abrasador, o silêncio nas cenas iniciais, o “nada” há quilômetros de distância, são uma síntese precisa de tudo que o filme precede. Se de cara, tudo que vemos é o céu, horizonte… Nas cenas seguintes serão minutos e mais minutos, intermináveis, de inferno — correria, intuito do vale-tudo pela sobrevivência, perseguições, de cansaço, do buzz infernal de uma motoserra elétrica, incessante e meticulosamente brutal, o terror se denomina espreitando sem parar a simpatia automática do espectador pela protagonista, e como que vindo de ‘tudo e quanto’, os lugares para onde correr. É uma aposta inconsciente. Nos vemos na situação e no fim das contas, quem não quer viver?!

Entre essas e outras coisas está um dos grandes fatores que providencia qualidade nessas imagens tão simbólicas, com sons de ruído e sugestivos, tal como o (dizem que foi gravado num abatedouro enquanto elas morriam) como uma premonição de Sally.

A identidade visual é o fator importante na soma de tos diferenciais do Texas Chainsaw, como eu costumo dizer, não dá para fazer melhor que esse filme cdos oom baixo orçamento, brilhantismo, mas tão natural, tão cru, tão anos 70 e mesmo assim, uma imagem com cores fortes e edições precisas que combinam extraordinariamente com uma mensagem passada com rigor pelas entrelinhas (e qe nem todo mundo percebe) numa riqueza visual, e até um toque especial além disso.

Eu pessoalmente vejo O Massacre da Serra Elétrica como comparável a um ótimo livro com ilustrações das melhores, ou seja, além da história bacana também um empurrãozinho da Fotografia, e essa qualidade pouquíssimos filmes de baixo orçamento alcançaram.

A atuação de Marilyn Burns como Sally é a essência do filme e não Leatherface (Gunnar Hansen) como muitos pensam, o que ela fez nessa obra é uma síntese perfeita do que a significa, dar o sangue. Ela deu o sangue, e fez tudo o que estava ao seu alcance para interagir com o que tinha e integrar uma boa atuação, com todos os problemas de produção do mundo, e desde então nunca se viu uma Scream Queen tão fascinante.

Sobre as influências e características, sensacionalismo de violência e sensualismo feminino

Até hoje tem gente por ai que acha que esse filme é inteiramente baseado em fatos reais, um equívoco enorme, é certo que há influências de casos como o do famoso necrófilo e psicopata Ed Gein, que partia suas vítimas ao meio e consumia suas entranhas, isso casado com uma dose chamativa de sensacionalismo foi o que fez o filme vender, e ser um dos mais bem sucedidos de baixo orçamento da história.

Parte dessa crença tosca de que havia um serial killer de motoserra também vem do sensacionalismo e também da sensualidade presente no Massacre remake, de 2003. Esse usou e abusou disso mas de uma maneira ridícula (com excessão da belíssima cena de found footage do início — que realmente assusta).

Esse é um dos filmes que mais ganhou lançamentos no gênero de Terror, são inúmeras as fitas de VHS, DVDs, Blu-rays, entre outros.

O final do filme é a cereja do bolo, de tanto gritar em desespero, após Sally conseguir se ver livre daquele inferno, simplesmente não consegue cair em si, está atônita da realidade, catatônica do mais puro Terror, pelo pavoroso e simples medo excruciante de morrer.

Publicação atualizada em: 23/09/2016

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